Prioridade da água é a vida, dizem estudiosos

do Canal Ibase

Uma política para a água deve priorizar as atividades vitais ligadas ao recurso, e não o mercado e o sistema produtivo. Essa foi uma das conclusões do debate “Nossa água”, realizado na sexta-feira (15), na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, como parte dos eventos da Rio+20.

Cândido Grzybowski, diretor do Ibase, defendeu que a concepção da água como um bem comum é condição para que o sistema funcione: “Estou falando do sistema ecológico e não do sistema econômico. A água compõe a estrutura da vida”, explicou.

Apesar de ser um recurso fundamental, a água não foi contemplada de maneira satisfatória pelo documento oficial da ONU para a Rio+20. Cândido definiu o acesso à água como uma questão vital, que transcende a discussão sobre privatização ou estatização do recurso. “Esse sistema deve ser preservado e compartilhado, pois cuidar é compartir. A justiça social está completamente relacionada à justiça ambiental”, afirmou. “A água é uma questão de cidadania e, antes de tudo, de sobrevivência”.

Para Maxime Combes, do projeto Echo de Alternatives, a utilização de água para a produção de energia pode, a curto prazo, impedir atividades vitais que dependem do recurso: “Se pensarmos somente na produção, não haverá mais água para beber ou preparar alimentos”.

Combes lembrou que praticamente todo o sistema de produção se baseia no consumo de água. “Até quando usamos nosso carro ou nosso computador estamos usando água. Esses bens funcionam com o combustível fóssil, que consome uma quantia de água similar a do petróleo extraído para a sua obtenção, ou a energia elétrica, gerada a partir da construção de barragens e do alagamento de ecossistemas.”

Após assistir ao documentário “Água invisível” (2009), sobre a privatização da água em Manaus, Combes usou o exemplo da Itália, país onde houve um referendo com resultado contrário à privatização da água. “Isso que aconteceu na Itália pode ser possível em qualquer parte do mundo. Depende, entretanto, de uma mobilização pela cidadania que vá além dos movimentos sociais e envolva a todos”, disse.

André Abreu, da France Libertés, criticou o caráter mercadológico que as grandes companhias impõem à água. “Este recurso não pode estar nas mãos do mercado, deve atender aos interesses coletivos”, disse.

O debate “Nossa água” fez parte da Mostra Social em Movimentos Rio+20, na Caixa Cultural.