O manguezal pede socorro

do canal Ibase

Quando Adeimantos Carlos da Silva chegou à área onde seria iniciado o projeto Mangue Vivo, não conseguia acreditar que o local que estava vendo foi chamado um dia de manguezal. “O solo estava tão seco que as pessoas vinham aqui para jogar futebol, até fazer ‘pega’ com os carros”, contou para a equipe do projeto Indicadores da Cidadania (Incid), em visita de campo a Magé. Hoje, 12 anos depois, é impossível andar sem galochas pela área, que está quase totalmente recuperada.

O vazamento de 1,3 milhão de litros de petróleo na Baía de Guanabara causado por um duto da Reduc em 2000 foi o que impulsionou o projeto. O desastre chamou atenção para muitas áreas que precisavam de recuperação ambiental urgente e o manguezal foi uma delas – o Brasil, considerado o país com maior área de manguezal do planeta, já destruiu 50% dela. O projeto Mangue Vivo é realizado pela Fundação Ondazul e já recuperou 12mil m² de manguezais no entorno da Baía de Guanabara, nos municípios de Magé, Guapimirim, Itaboraí, São Gonçalo e Niterói.

crédito: Agenda 21

Apesar da vitória para o meio ambiente, o projeto passa por muitas dificuldades, principalmente financeiras. Sem apoio público ou privado, apenas duas pessoas trabalham no projeto atualmente, tomando conta de cinco grandes áreas. Parte do Mangue Vivo desde o começo, Adeimantos é um deles. “Falta recurso”, lamentou. “O Ibama só mandou verba durante um ano. Disse que o trabalho não tinha futuro. Aí a gente foi atrás da iniciativa privada. A concessionária Rio-Teresópolis ajudou um tempo, mas parou também”.

Mas a falta de recusos para projetos ambientais não é um problema apenas do Mangue Vivo. De acordo com o indicador “Garantia de investimentos em meio ambiente” do Incid, os gastos municipais com o meio ambiente foram extremamente baixos em 2009. Quando se observam os municípios que fazem parte do projeto Mangue Vivo, a situação é ainda mais grave. Em 2009, o município de São Gonçalo gastou apenas R$11,73 per capita com o meio ambiente; em Itaboraí e Niterói foram, respectivamente,R$7,53 e R$5,34. Fica pior: Magé e Guapimirim não declararam nenhum gasto com gestão ambiental.

No entanto, mesmo sem apoio financeiro, o Mangue Vivo sobrevive. Através de mutirões organizados pelos dois membros restantes no projeto, são feitos o plantio de mudas e a coleta do lixo, que é uma das maiores ameaças para o mangue. Mesmo com o projeto situado na Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, Ademantos diz que a quantidade de lixo que chega aos manguezais é absurda. “É como secar gelo. O lixo não para de ser despejado aqui. Também estamos no fundo da Baía de Guanabara, então tudo vem para cá”.

O despejo de lixo na Baía de Guanabara é um problema há muito tempo. A poluição da água é tão grande que já tornou as 53 praias da Baía impróprias para o banho. Em seu entorno, há um número significativo de domicílios cuja destinação do lixo foi considerada inadequada, ou seja, o descarte do lixo acarreta poluição do solo ou dos recursos hídricos, de acordo com os dados do projeto Incid. De acordo com Censo Demográfico 2010 do IBGE, 4,2% (2.799) dos 66.645 domicílios urbanos de Magé não tinham uma destinação adequada para o lixo. Nas demais áreas do projeto Mangue Vivo a situação também é ruim. Em Guapimirim a proporção é de 6,8%; Itaboraí 7,1%; São Gonçalo 6,2% e Niterói 1%.

A falta de coleta e destinos adequados para o lixo torna o trabalho de reflorestamento do mangue ainda mais difícil. Foi preciso colocar uma barreira em frente aos manguezais para evitar a passagem de lixo mais pesado com a subida da maré. A ideia ajuda, mas não é uma solução. Para piorar a situação, a Prefeitura acumula todo o lixo que chega à praia em um ponto e não costuma coletá-lo. “Quando as escolas vêm fazer mutirão com a gente, damos uma aula de educação ambiental. Porque não tem jeito… Enquanto a população não parar de jogar lixo na Baía e no mangue e o governo não tomar medidas sérias isso não vai acabar”, conclui Adeimantos.

O projeto Indicadores da Cidadania (Incid) é uma realização do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), em parceria com a Petrobras e tem o objetivo de avaliar o exercício da cidadania em 14 municípios do chamado Leste Fluminense. São eles Itaboraí, Magé, Maricá, Guapimirim, Cachoeiras de Macacu, São Gonçalo, Niterói, Silva Jardim, Nova Friburgo, Teresópolis, Tanguá, Saquarema, Casimiro de Abreu e Rio Bonito.