As várias “Guapimirins”
do Incid
Até, 2006, quando houve a implantação dos três primeiros dutos do sistema Comperj (Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro), da Petrobras, Guapimirim tinha a economia baseada em pequenas propriedades rurais e no comércio. Desde então, a população da cidade, hoje em 51 mil habitantes, têm a expectativa de que o empreendimento trará melhorias para a qualidade de vida na região.
Em 2011, com o repasse de royalties para a prefeitura no valor de R$ 30 a R$ 35 milhões, a expectativa aumentou. Embora digam que Guapi, como é conhecida a cidade, teria tudo para ser rica, moradores da região lamentam que o município continue, apesar do reforço dos royalties, a ocupar 63ª lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre os 92 municípios do estado do Rio.
“Não dá pra dizer simplesmente que Guapimirim tem todos os problemas do mundo”, observou a historiadora Tânia Pacheco, que vive no município. Para ela, a cidade teria tudo para ser rica, tanto pela localização quanto por sua riqueza ambiental, não fossem as ações de políticas públicas tão ineficazes, que resultam em mazelas sociais. Para a historiadora o que existe são ”Guapimirins”.
Em termos de biodiversidade, a região tem importantes núcleos de fauna e flora. A área de mangue, sob os cuidados da Área de Proteção Ambiental de Guapimirim (APA), é uma das principais reservas da região, mas está continuamente ameaçada pelo crescimento urbano. Os avanços das obras do Comperj também preocupam. A intenção do empreendimento é fazer uso do rio Guaxindiba, que fica dentro dos limites da unidade de conservação APA de Guapimirim, para transporte de equipamentos pesados em embarcações. No entanto, a ação tem sido vetada pelo órgão e por movimentos socioambientais diversos.
Segundo Pacheco, quem vive na cidade e não nas áreas entorno – reservas, sítios e áreas verdes -, é quem mais sofre com o descaso do poder público. As regiões mais afastadas são cheias de fontes de água, e possuem diversas fossas, mas a população que vive na cidade tem que viver com a água que vem do rio Soberbo, que já teve seu nível diminuído. “O centro da cidade tem água encanada há menos de 5 anos”, alerta.
Outra questão preocupante é a precariedade de transporte escolar. A historiadora, que mora afastada do centro da cidade, diz que as crianças precisam se deslocar por longas distâncias para chegar às escolas.
A cidade sofre também com falta de hospital de médio porte, capaz de realizar atendimentos mais completos, além de problemas de saneamento, transporte e coleta de lixo. Seus moradores vivem uma rotina exaustiva para chegar e voltar do trabalho, pela falta de transporte público.
Isabel Kwiathowsky é moradora de Teresópolis e faz parte do Conselho da Mulher, diz que frequenta o município, e que as políticas públicas para cidades do interior são inexpressivas: não há médicos, escolas, saneamento, nem abastecimento de água adequado. “Para se ter uma ideia, depois das chuvas, uma ponte foi construída na Região Serrana, só que as obras tiveram que ser refeitas depois de pronta”, contou.
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