Moradores fazem o trabalho da prefeitura em Itaboraí e São Gonçalo
Por Paula Brito, para Viva Favela
Em Itaboraí, ao menos 21,3% dos habitantes convivem com esgoto a céu aberto e 11.265 residências despejam detritos de forma irregular nos mais diferentes locais. Estes dados, revelados, respectivamente, pelo Sistema de Indicadores da Cidadania (Incid) e pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), contrastam com o momento econômico pelo qual passa o município. Prestes a receber um dos maiores empreendimentos da história do país, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), Itaboraí ainda sofre com deficiências no fornecimento de água, na coleta de lixo, entre outros serviços relacionados ao saneamento básico.
Devido à ausência do poder público, os moradores se juntam em mutirões para fazer o trabalho. No bairro Gebara, quem mora na Rua 1, uma das principais vias do bairro, desistiu de esperar pela prefeitura e decidiu resolver pelo menos parte do problema. “Nossa rua não é asfaltada, e as águas da chuva provocam a formação de um lamaçal, sem falar no esgoto a céu aberto. Nós então decidimos nos reunir e colocar a mão na massa. Compramos cascalho, várias faixas de madeira e colocamos de um lado a outro. Assim nossas crianças não pisam mais no esgoto e não pegam mais doenças de pele. Sabemos que isso não vai funcionar por muito tempo, estamos chegando à época de chuvas e vai voltar aquele lamaçal logo, logo. Até lá, ficamos aqui”, contou o morador Luiz Carlos da Silva, de 59 anos.
Segundo o Incid, 33,5% dos domicílios de Itaboraí possuem escoamento inadequado do esgoto, quando a média estadual é de 13,6%. Ou seja, as águas das chuvas e o descarte do esgoto são feitos pela mesma rede de drenagem e despejados sem qualquer tratamento nos rios da região (Vargem, Tingidor e Aldeia, afluentes do rio Porto das Caixas; Caceribu e a própria Baía de Guanabara).
A prefeitura informou que trabalha com o objetivo de que, até 2015, 70% do município sejam contemplados com rede de esgoto. Orçada em R$ 89 milhões, a obra de esgotamento sanitário prevê a implantação de 45 km de rede nos bairros, além de cinco elevatórias e uma nova Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). A licitação da empresa que será responsável pela obra acontecerá em breve, segundo a prefeitura, que informou ainda que as verbas para pacotes de obras de saneamento nos bairros já teriam sido aprovadas pelo Ministério das Cidades.
De acordo com informações da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), apenas 0,05% dos domicílios de Itaboraí possuem acesso ao serviço de esgotamento sanitário, cujo tratamento acontece, de forma precária, em quatro Estações de Tratamento Primário de Esgoto (ETE). Entre 2006 e 2008, a Cedae diz ter ampliado o serviço de abastecimento de água em 7,56%, passando a atender 20,81% dos domicílios. Este índice, no entanto, ainda se encontra muito abaixo dos demais municípios da região e grande parte da população ainda utiliza água de poços artesianos ou de caminhões-pipas.
O município também se encontra abaixo da média da região no quesito “Direito à Saúde”. A dona de casa Rosiane Gonçalves Batista, de 29 anos, é mãe de Leonardo, de sete anos, e moradora do bairro Vila Brasil. Grávida de três meses do segundo filho, ela afirma que tem medo de contrair alguma doença convivendo com o esgoto. “Morar na Rua Minas Gerais é vergonhoso. Para que parte dela fosse manilhada, os moradores tiveram que juntar dinheiro e fazer um mutirão A prefeitura de Itaboraí deixou todo mundo largado. Tem bicho, rato, caramujo. Tenho medo pelo meu filho, que é criança e brinca com os colegas pulando o valão”, contou.
Em nota, a Secretaria Municipal de Obras de Itaboraí diz que “estará enviando uma equipe até os locais abordados e, se comprovada a necessidade, dará início aos trabalhos de pavimentação”.
São Gonçalo
Já São Gonçalo, com quase 1 milhão de habitantes, possui 4.044 domicílios em “aglomerados subnormais” (termo usado para designar favelas no Censo do IBGE 2010). Destes, menos da metade (1.906) estariam ligados à rede geral de esgoto ou pluvial. O esgoto de 785 residências seria lançado em rios, lagos, ou mar, e de outras 576, em valas. A fossa séptica seria usada em 334, e a fossa rudimentar em 401.
Apesar de ser um dos principais acessos para quem vai à turística Região dos Lagos, o bairro de Marambaia, em São Gonçalo, sofre com sérios problemas de infraestrutura. São ruas esburacadas e sem pavimentação, falta d’água, esgoto a céu aberto, gravíssima deficiência de transportes, segurança e outros serviços. Para a agente comunitária de saúde Bernardete Rodrigues Figueiredo, de 58 anos, o bairro está abandonado. “Eles dizem que todas as ruas daqui estão asfaltadas e iluminadas. Mas fora a Rua Tibiriçá, todas as outras estão numa situação deplorável. Eu trabalho nesse bairro há 12 anos e nunca vi uma melhoria. Nossas crianças brincam nos valões de esgoto, temos que pagar galões de água para sobreviver e a praça está tomada pelo tráfico”, contou.
Para Moacir Rodrigues Nunes, de 61 anos, se não fosse uma obra feita pelos moradores, a Rua Imbé não existiria mais. “Quando vim morar aqui havia uma vala negra que ocupava três de nossas ruas. Era muito mosquito e um cheiro insuportável. Eu e mais uns moradores decidimos resolver do nosso jeito. Nós juntamos o dinheiro, compramos o material e instalamos umas 300 manilhas de 30 metros. Todo domingo, ao invés de descansar, nós íamos para a rua. Fizemos a tubulação das ruas Imbé, Tibiriçá e Itacuruçá. Anos depois a prefeitura veio aqui e asfaltou a rua Tibiriçá e eu tive que fazer outra obra, porque eles ainda fizeram questão de deixar 12 metros da minha rua a baixo do nível do asfalto. Ou seja, chovia e isso aqui virava um piscinão, alagava tudo. A prefeitura só vem aqui pra pegar o IPTU, nem capina nós temos. É um absurdo”, declarou.
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